quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Pensar é mais que pensar


Pode até parecer estranho mas, pensar é mais que simplesmente pensar. Pensar é também desconfiar, manter-se num estado de suspeita ousando questionar o aparentemente inquestionável ou, pelo menos, manter em suspenso qualquer juízo a fim de não incorrer em julgamento errôneo. Pensar é (re)pensar, retomar o já pensado para pensá-lo novamente, em poucas e simples palavras, é não se contentar com o que vem de forma gratuita.
A partir disso percebemos uma distinção entre o “ter pensamentos” e o “ato de pensar”. Ter pensamentos é uma condição inescapável em que o indivíduo voluntária ou involuntariamente se encontra “habitado” por idéias, conceitos e opiniões, advindas do convívio com outras pessoas, dos meios de comunicação, etc., nesse processo ele é passivo, pois é um ser pensante por natureza. Por outro lado, no ato de pensar o indivíduo é ativo, ele toma o pensamento e se propõe a (re)pensá-lo, descobrindo a partir de então nuances ainda não percebidas; ele deixa de contemplar os reflexos sobre as águas e para a enxergar o que há no fundo.
Assim, podemos dizer que há uma grande diferença entre aqueles que pensam e aqueles que apenas têm pensamentos: todo aquele que pensa tem pensamentos, mas nem todo aquele que tem pensamentos pensa. Pensar vai além de ter pensamentos, pensar é colocar os pensamentos em movimento, é dar liberdade não só para pensar sobre tudo, mas também pensar tudo sobre tudo.


Luciano L. Borges

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

O Deus apaixonado

Em discussões religiosas, até mesmo entre cristãos, podemos ouvir frases como estas: “Deus não pode sofrer”, “Deus não pode morrer”, “Deus não tem necessidades”, “Deus não precisa de amigos”. Tenho pena dos que pensam dessa forma, porque transformam o Deus vivo num ídolo morto do seu próprio medo da vida.
O Deus que falam os homens do Antigo Testamento, baseados nas próprias experiências, não é um poder frio e silencioso, no céu, que permanece, auto-suficiente, distribuindo graciosamente esmolas aos súditos. É, bem ao contrário, o Deus apaixonadamente envolvido com sua criação, com os homens e com o futuro. Sentimos sua presença no patético expresso em seu amor pela liberdade e no interesse apaixonado pela vida contra a morte. Foi por isso que esse Deus entrou numa aliança com os homens, muito semelhante ao casamento, como relata o Antigo Testamento. Tornou-se vulnerável ao amor. Quando Israel o abandonou e se deixou levar pelos ídolos, sua paixão pela liberdade desse povo fê-lo sofrer. Caminhou ao lado de Israel na direção do exílio, participando de seu sofrimento. Irou-se por causa dos pecados incoerentes do povo. Mas seu desgosto expressava apenas o amor ferido, nada mais.


Jurgen Moltmann