quinta-feira, 10 de abril de 2014

Pessoa

Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural 

Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva... 

O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja... 

Alberto Caeiro

Amor de Deus


Te amo, não porque me amas
Te amo porque não sei não te amar 
 
Te amo irresponsavelmente,
Como quem não se importa com nada
Te amo intensamente,
Como se nada mais existisse 
 
Embora amar seja tornar-se frágil
Te amo sem medo e sem ressalva
Com amor grande, com amor sublime
Totalmente entregue à coisa amada. 
 
Luciano Borges