quinta-feira, 24 de março de 2011

Sobre o fundamentalismo

O problema do fundamentalismo no seio da igreja (seja ela qual for) não está em terem posições teológicas, éticas, morais,... engessadas, mas em imporem sua posição como única razoável e, se preciso for, mutilar o diferente para fazer prevalecer sua verdade.

Luciano Borges

sexta-feira, 4 de março de 2011

Coisas que me impressionam


"Felicidade não existe
O que existe na vida
São momentos felizes."




Quem não deseja ser feliz? Acredito que podemos afirmar, sem medo de errar, que essa é a principal busca do ser humano. Talvez até seja uma busca subjacente a outras, mas que no fundo, faz de todas estas um pretexto para sua realização. Nesse sentido, quem sabe possamos afirmar que a incansável busca da felicidade seja um desejo às vezes manifesto, às vezes oculto que move o ser humano em suas escolhas, projetos e sonhos, aliás, o filosofo Blaise Pascal dizia: “Todos os homens procuram ser felizes; isso não tem exceção...É esse o motivo de todas as ações de todos os homens, inclusive dos que vão se enforcar...”. Pois bem, com a finalidade de saciar essa sede de felicidade o ser humano vai lançar mão dos recursos que tem a sua disposição para, quem sabe, saborear ao menos uma gota dessa coisa tão desejada.

Impressiona-me o aparato tecnológico que hoje temos à nossa disposição para nos fazer felizes. São celulares com maquinas fotográficas de alta resolução, gravador de voz e vídeo, radio FM e TV, temos computadores potentíssimos, TVs de alta definição, IPod, IPed, etc., etc., etc. tudo à nossa disposição para nos informar, entreter e facilitar a vida. Toda esse parafernália tecnológica se tornou tão importante para nós de maneira que não conseguimos imaginar nossa vida sem algumas delas, por exemplo: quem não fica apreensivo com a possibilidade de ter seu computador infectado por um vírus que possa danificá-lo? Quem, saindo de casa percebendo que esqueceu celular não volta para buscá-lo? Há quase que uma relação de dependência orgânica entre nós e nossa tecnologia.

Impressiona-me o ânimo com que adquirimos coisas julgando que nos farão felizes. Há pessoas que para compensar uma experiência negativa (tristeza, frustração, decepção) precisam consumir. O consumo funciona como uma espécie de compensação pelo momento difícil que atravessam. Contudo, mesmo quando não estamos “para baixo” é comum irmos aos shoppings, e se dali não sairmos com pelo menos uma “sacolinha” nos sentimos mal. Quando consumimos preenchemos nosso um vazio existencial e experimentamos um bem-estar momentâneo que nos proporciona uma vida um pouco mais aprazível.

Impressiona-me a múltipla possibilidade relacionamento que hoje dispomos para nos fazer mais felizes. E-mail, orkut, my space, twiter. Podemos conhecer pessoas diferentes, de perto ou de longe, podemos nos agrupar por gostos e afinidades, mas interessantemente, mesmo com essa ampla possibilidade nos envolvemos sem nos envolver, expomos nossa vida ao extremo, mas permanecemos isolados uns dos outros e conseguimos nos manter a uma distância suficiente para manutenção de um profundo relacionamento impessoal.

Impressiona-me o número de igrejas que acolhem os sedentos de felicidade. Igrejas que oferecem soluções mágicas e instantâneas através de auto-ajuda, auto-afirmação, versículos bíblicos, orações, e até “desencapetamento” por módicos valores. Pessoas afluem para essas igrejas como no deserto o sedento corre para a miragem de um lago, por acreditarem que ali encontrarão o mapa da mina do tesouro da felicidade, ou pelo menos lhe ensinarão os segredos e macetes para uma vida feliz.

Impressiona-me, mais ainda ao concluir que a busca da felicidade é uma busca ao mesmo tempo cômica e trágica, pois, percebo que, apesar de todos os recursos e aparatos criados pelo homem para viabilizar a felicidade, a humanidade permanece infeliz. Para grande parte das pessoas a felicidade se tornou mais um sonho de consumo inacessível, cuja aquisição não possui nenhuma relação com suas escolhas e decisões do dia-a-dia. Notadamente, a vida feliz foi separada da vida correta e bem ordenada, uma nada tem haver com a outra. Questionado se, pessoalmente, se considerava uma pessoa feliz o filósofo André Comte-Sponville respondeu: “regozijo-me de viver e lutar: Se isso não é uma felicidade, o que é a felicidade?” Talvez essa seja uma boa dica para repensarmos nossa busca da felicidade.

Luciano Borges