quinta-feira, 30 de junho de 2011

quarta-feira, 22 de junho de 2011

O olhar de Deus

“O olhar de Deus para o mundo e suas criaturas não pode ser mais compreendido como uma atitude vigilante e policialesca que quer controlar, julgar e condenar os erros dos seus, mas como um olhar de ternura e carinho, compaixão e apoio nas quedas e nos pecados, ajudando-nos a nos reerguer.”



Paulo Roberto Gomes

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Mediocridade evangélica

Nos últimos anos a igreja evangélica brasileira vem experimentando um extraordinário crescimento. Ela se espalhou por todos os cantos do país e atingiu todas as camadas sociais, chegando a acender em alguns sonhadores a esperança de em breve ver um Brasil evangélico. Mas na mesma proporção em que cresceu, também emburreceu: o estudo sério da Bíblia deu lugar a mensagens de auto-ajuda, o culto de adoração se transformou num encontro para barganhar com Deus, a vida cristã se reduziu a uma infinidade de “não pode”, e a espiritualidade se desfigurou num misticismo sincretista. Ao mesmo tempo em que celebramos a expansão numérica, lamentamos certa contração mental coletiva.

Não era para ser assim
A Reforma Protestante foi um importante movimento na primeira metade do século XVI, desencadeada a partir das 95 teses de Martinho Lutero fixadas nas portas da Catedral de Wittemberg. Foi a causa do rompimento com a Igreja Católica Romana e, como desdobramento subseqüente, do nascimento da igreja protestante e suas muitas ramificações, podendo ser considerada o marco inicial do que hoje chamamos de movimento evangélico.
A Reforma Protestante se apoiava em cinco pilares: sola Gratia, sola Scriptura, solos Christi, sola Fide e o Sacerdócio Universal de Todos os Crentes, que não só pontuaram as principais divergências com a Igreja Católica Romana, como também sustentaram uma “nova” visão que romperia com o aquilo estava posto até então, possibilitando a emergência de uma nova forma de pensar e viver a fé cristã.
Embora todos os pontos de discórdia levantados pelos reformadores objetivassem o rompimento com um sistema político-religioso que perdurava por mais de dez séculos, é no Sacerdócio Universal de Todos os Crentes que temos aquilo que podemos chamar de um projeto anti-imbecilizador. Com o Sacerdócio Universal de Todos os Crentes, de um lado se desferiu uma crítica ácida ao sistema hierárquico da Igreja Católica Romana, no qual o leigo não tinha acesso direto a Deus, precisando recorrer a um mediador, um sacerdote; e de outro, o conscientizou do lugar que ocupava, não como leigo, mas também como sacerdote, com todos as responsabilidades, dispensando todo e qualquer tipo de mediação humana em sua relação com Deus.
Com essa visão o homem se libertou de muitos dos pesos que afogavam a cristandade num mar de superstição e colocou diante de cada um, dentre outras coisas, a intransferível responsabilidade de interpretar, compreender e aplicar a Bíblia a sua própria vida.

Qual o nosso problema?
Se a Reforma Protestante representou o passo para fora da imbecilidade dominante na Idade Média, hoje presenciamos o retorno, uma espécie de renascimento da imbecilização, uma reforma às avessas. Eis alguns pontos que atestam isso:

Engessamento dogmático:
O engessamento dogmático é o acorrentamento do pensamento a uma construção doutrinária que carrega consigo a pretensão ser a única fiel expressão do pensamento bíblico, o produto final e imexível da reflexão teológica (embora na teoria não afirmem isso, na pratica é inegável essa posição). Como conseqüência, e também para manutenção do próprio dogma, essa posição doutrinária passa a ser o critério pelo qual todo o trabalho interpretativo do texto bíblico deverá ser realizado, se arvorando como um juiz que avalia a fidelidade das outras interpretações.
O problema central do engessamento doutrinário, é que ele nubla nas construções doutrinárias seu aspecto provisório, (característico de toda construção teórica, por estar condicionada a uma cultura, a um tempo e a um espaço específicos) e lhe atribui a qualidade de imutável, inibindo com isso toda possibilidade de continuidade da reflexão. Ele transforma o teólogo num mero repetidor.
Com isso não queremos dizer que devamos desprezar as construções doutrinárias que compõe a rica herança do cristianismo. Elas têm seu lugar, devem permanecer como ponto de partida e balizadoras que norteiam um pensamento que continua a fluir, mas nunca devem ser absolutizadas.

Perigo de pensar:
Se a construção teológica carrega as marcas da cultura, do tempo e do espaço, onde nasce, então pode ser considerada sempre um trabalho incompleto. A vida está num fluxo contínuo e suas demandas sempre exigirão respostas. Isso aponta para a necessidade de se continuar a pensar a teologia, de construir respostas viáveis para as novas questões que a vida coloca diante de nós.
Mas é comum se ouvir advertências quanto ao perigo do pensamento para a fé: “o pensar de mais pode ser perigoso”; como se a fé não comportasse também o racional (“Crer é também pensar” – John Sttot). Tal temor é compreensível; o pensar a fé assusta pelo fato que pensar abre novos horizontes, novas possibilidades, desfaz fantasias e ilusões. Quando nos dispomos a pensar com honestidade sobre aquilo que cremos saímos da caverna e passamos a perceber que o mundo é muito mais que o buraco onde até então vivíamos. Como canta Caetano Veloso: “o pensamento parece uma coisa a toa. Mas como é que a gente voa quando começa a pensar”.

Leitura ingênua da realidade:
Para tudo se propõe uma resposta espiritual, tudo o que acontece aqui, tem sua causa para além desse mundo. A partir dessa ótica, temos explicações para a desigualdade social, para a criminalidade, para o desmatamento da Amazônia, para o aquecimento global, etc., etc., etc. Contudo não nos damos conta que essas explicações “espirituais” além de não explicar, não poucas vezes funcionam como justificativas para se eximir da responsabilidade para com o mundo. Ela afasta do compromisso de engajamento para uma participação meramente “espiritual”, com demarcações territoriais, declarações de posse, unção de pontos estratégicos, orações de guerra. Pois se acredita que a maneira mais eficaz de intervenção no mundo é pela via “espiritual”, daí práticas que beiram a insanidade, tais como demarcação territorial com urina.
Esse tipo de leitura da realidade, além de revelar uma visão ingênua do mundo (ignorância das estruturas sociais, econômicas e ideológicas que tendem a perpetuar a desigualdade), revela também uma religiosidade alienada, supersticiosa e simplista.

Os reformadores compreenderam a importância de libertar o povo da sua condição, pois mantê-los na mediocridade tornaria impossível a Reforma da igreja, hoje muitos líderes entenderam a importância de mantê-los na mediocridade, pois a mediocridade alheia é um solo fértil e fácil para abusos. Embora esse fato, seja indícios de que algo não vai bem, deve ser encarado como uma chamada à igreja evangélica brasileira a repensar (a si mesma e seu papel no mundo). Uma tarefa árdua e desafiadora, contudo necessária e urgente que precisa ser feita com coragem e honestidade por todos nós.




Luciano L. Borges

quinta-feira, 9 de junho de 2011

A igreja dos meus sonhos




Todo pastor alimenta sonhos em relação a comunidade onde serve. Ele não é um mero administrador que se limita a colocar em funcionamento a engrenagem eclesiástica para que a igreja sobreviva, mas é tão ligado a comunidade e tão parte dela que em seu coração alimenta sonhos e traça projetos que procurem promover seu crescimento em todos os aspectos. Sou pastor e também tenho sonhos em relação a nossa comunidade, e aqui passo a compartilhar alguns deles:
Sonho com uma igreja que acolha com amor todos aqueles que a ela se achegam, sejam eles diferentes ou iguais a nós, independendo de seu ponto de vista, de sua posição social, da cor de sua pele, etc. Que sempre leve em conta antes de tudo a dignidade da pessoa humana, criada a imagem e semelhança de Deus e profundamente amada por ele.
Sonho com uma igreja que não se perca na mediocridade das discussões em torno do “pode / não pode”, mas que perceba que o compromisso cristão é uma realidade tão sublime e profunda que só faz sentido na liberdade, onde aquele que ama a Deus procura agradá-lo em seu viver diário por ser amado e não por ser coibido.
Sonho com uma igreja que tenha consciência de que a vida cristã não é uma espera passiva aguardando o além, mas um compromisso assumido aqui e agora que influencia todas as esferas da vida.
Sonho com uma igreja que olhe ao seu redor e, com honestidade, pergunte a si mesma: “O que o mundo espera de mim? Qual o meu papel nesse mundo?” E em obediência ao Mestre procure em seu dia-a-dia ser sal e luz do mundo.
A igreja dos meus sonhos não é uma igreja perfeita, mas uma igreja que, consciente de sua próprias falhas e limitações, aprendeu a ser misericordiosa e bondosa com as falhas e limitações dos outros. Que se sabe amada e acolhida por Deus e por isso continuamente se esforça para responder a esse amor procurando em todas as coisas promover a glória dele.


Luciano L. Borges