segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O homem; as viagens

O homem, bicho da Terra tão pequeno
chateia-se na Terra
lugar de muita miséria e pouca diversão,
faz um foguete, uma cápsula, um módulo
toca para a Lua
desce cauteloso na Lua
pisa na Lua
planta bandeirola na Lua
experimenta a Lua
coloniza a Lua
civiliza a Lua
humaniza a Lua.
Lua humanizada: tão igual à Terra.
O homem chateia-se na Lua.
Vamos para Marte — ordena a suas máquinas.
Elas obedecem, o homem desce em Marte
pisa em Marte
experimenta
coloniza
civiliza
humaniza Marte com engenho e arte.
Marte humanizado, que lugar quadrado.
Vamos a outra parte?
Claro — diz o engenho
sofisticado e dócil.
Vamos a Vênus.
O homem põe o pé em Vênus,vê o visto — é isto?
idem
idem
idem. homem funde a cuca se não for a Júpiter
proclamar justiça junto com injustiça
repetir a fossa
repetir o inquieto
repetitório.
Outros planetas restam para outras colônias.
O espaço todo vira Terra-a-terra.
O homem chega ao Sol ou dá uma volta
só para tever?
Não-vê que ele inventa
roupa insiderável de viver no Sol.
Põe o pé e:
mas que chato é o Sol, falso touro
espanhol domado. outros sistemas
fora do solar a col-
onizar.
Ao acabarem todos
só resta ao homem
(estará equipado?)
a dificílima dangerosíssima viagem
de si a si mesmo:
pôr o pé no chão
do seu coração
experimentar
colonizar
civilizar
humanizaro homem
descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
a perene, insuspeitada alegria
de con-viver.

Carlos Drummond de Andrade

O silêncio dos bons



“O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem-caráter, nem dos sem-ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons!”

Martin Luther King

O Senhor da minha fé

Não creio no deus dos magistrados
nem no deus dos generais
ou das orações patrióticas.
Não creio no deus dos hinos fúnebres
nem no deus das salas de audiência
ou dos prólogos das constituições
e dos epílogos dos discursos eloquentes.
Não creio no deus da sorte dos ricos
nem no deus do medo dos opulentos
ou da alegria dos que roubam ao povo.
Não creio no deus da paz mentirosa
nem no deus da justiça impopular
ou das veneradas tradições nacionais.
Não creio no deus dos sermões vazios
nem no deus das saudações protocolares
ou dos matrimônios sem amor.
Não creio no deus construído
à imagem e semelhança dos poderosos,
nem no deus inventado para sedativo
das misérias e sofrimentos dos pobres.
Não creio no deus que dorme nas paredes
ou se esconde nos cofres das igrejas.
Não creio no deus dos natais comerciais
nem no deus das propagandas coloridas.
Não creio nesse deus feito de mentiras
tão frágeis como o barro,
nem no deus da ordem estabelecida
sobre a desordem consentida.

O Deus da minha fé nasceu numa gruta.
Era judeu,
foi perseguido por um rei estrangeiro
e caminhava errante pela Palestina.
Fazia-se acompanhar por gente do povo;
dava pão aos que tinham fome;
luz aos que viviam nas trevas;
liberdade, aos que jaziam acorrentados;
paz, aos que suplicavam por justiça.
O Deus da minha fé punha o homem acima da lei
e o amor no lugar das velhas tradições.
Ele não tinha uma pedra onde recostar a cabeça
e confundia-se entre os pobres.
Só conheceu os doutores quando estes duvidaram
de sua palavra.
Esteve com os juízes, que procuravam condená-lo.
Foi visto entre a polícia,
preso.
Pisou o palácio do governador
para ser chicoteado.
O Deus da minha fé trazia uma coroa
de espinhos.
Vestia uma túnica toda tecida
de sangue.
Dispôs de batedores que lhe abriram o caminho
do Calvário,
onde morreu, entre ladrões
na cruz.

O Deus da minha fé
não é outro senão
o filho de Maria,
Jesus de Nazaré.

Todos os dias ele morre
cruscificado pelo nosso egoísmo.
Todos os dias ele ressuscita
pela força do nosso amor.

Frei Betto

sábado, 15 de agosto de 2009

Quem sou?


Sei que não sou eu
Pois o que sou nada mais é que
Aquilo que fizeram de mim
Contudo, já não sei quem seria
Se não fosse o que fizeram de mim
Pois essa imagem, criada por outros
Se apegou de tal forma em mim
Que penso ser eu mesmo

Luciano L. Borges

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Eu te amo


Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir
Ah, se ao te conhecer
Dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir
Se nós nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir
Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu
Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu
Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios ainda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair
Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir.

Tom Jobim e Chico Buarque


Obs. Foto de Luiza Borges

A IPB e o Carrossel


Estamos às vésperas de mais um encontro “Conversa com Quem Gosta de Pensar”, e propomos que nesse encontro nosso objeto de reflexão seja um balanço da história da Igreja Presbiteriana do Brasil (cartaz ao lado). Penso que temos vários motivos que justifiquem essa escolha, mas particularmente, um aspecto me chama atenção, a sensação de que enquanto a história ao nosso redor se desenvolve de maneira linear, na IPB ela se dá de forma cíclica. O pressentimento é de que estamos num carrossel que a cada volta traz os mesmo cavalinhos. Celebramos 150 anos, mas nada há de novo, nossa agenda há mais de cem anos é ocupada pelas mesmas discussões, estamos num grande carrossel e não sabemos como sair.
Ainda está na pauta das nossas discussões o problema da maçonaria. Para uns, uma mera confraria sem nenhum caráter religioso, uma espécie de irmandade que, apesar de seu caráter secreto que desperta em nós uma curiosidade danada, nada tem de mais, enquanto que para outros se trata de uma sociedade satânica no seio da igreja de Cristo, uma organização do mal que, apesar das insígnias: liberdade, igualdade e fraternidade, procura enganar, se possível os próprios eleitos. Essa discussão tem mais de cem anos e de tempos em tempos é retomada; livros são escritos, debates retomados, consultas baixadas, decisões são tomadas, assim caminha “entre tapas e beijos” IPB e maçonaria.
Não temos mais (pelo menos penso eu) o problema da intervenção dos missionários americanos em nossa administração traçando nossas prioridades e fazendo nossa agenda eclesiástica, mas os irmãos do norte continuam exercendo uma imensa influência em nossa teologia (que nem é nossa, é deles). Nos tornamos meros papagaios, os melhores teólogos são de lá (os que aqui teologam não teologam como lá), os melhores livros vem de lá, e porque não falar também do nosso novo modelo “contemporâneo” de igreja. Ora o que tudo isso quer dizer? Ainda continua atual a questão da nossa autonomia eclesiástica, não mais a autonomia administrativa, mas teológica e eclesiológica.
O fantasma do liberalismo voltou a nos assombrar. Perigo, estão à solta os outrora denominados modernistas, hoje neo-ortodoxos, mas que no fundo, aqui para nós, é tudo a mesma coisa (esses movimentos não floresceram em nossa terra, apenas se tornaram rótulos para classificar os que divergem em algum aspecto do pensamento hegemônico). É preciso combatê-los! Assim, o recado (ou ameaça?) é dirigido sempre aos mesmos “hereges”, ao mesmo seminário e à mesma teologia, que por não se fechar nos muros de uma certeza paranóica é classificada como maléfica. O que fazer com esses heterodoxos? Continua sendo um problema para nós.
Maçonaria, influência americana e o tal do liberalismo são os três dos cavalinhos do carrossel da IPB. Eles mostram que nossos problemas e nossas discussões não são novos, são velhos, e embora o mundo ao nosso redor caminhe linearmente nós estamos presos nessa roda-viva. Penso que refletir sobre a história da IPB pode nos ajudar a buscar de forma criativa outros caminhos que nos livre desse carrossel e nos leve a pensar não só na história da IPB, mas sobretudo, sobre o lugar da nossa amada IPB na história.

Luciano L. Borges

Obs. Esse artigo foi postado originalmente em 16/03/2009 num outro blog.

Humanidade (des)umana



Uma reflexão sobre antropologia teológica


“Conta-se de um velho e sábio rabi judeu que se lhe informou que havia pessoas que diziam que o Messias já viera. Ele não respondeu nada, mas foi à janela e, abrindo-a, contemplou o mundo. Após um momento, voltou meneando tristemente a cabeça. Se o Messias tivesse vindo deveras, as coisas haviam de ser diferentes, mas nada mudara.”
Essa pequena história provoca em nós pelo menos duas questões: o que o sábio rabi viu ao contemplar o mundo de sua janela? e, o que ele desejaria ter visto? Em si as duas questões, não nos revelam muita coisa, mas no espaço silencioso entre elas se estabelece uma tensão reveladora, a tensão entre o real e o ideal, entre o experienciado e o desejado, que fez emergir a decepção do sábio rabi. Ao contemplar o mundo de sua janela, percebeu que a humanidade não era aquilo que deveria ser, a humanidade que ele via, era caracterizada pela desumanidade, desumanidade que se evidenciava em seu modo de existir.

O que é o humano afinal?
A teologia Calvinista fala do homem como naturalmente mau, por natureza corrupto, em sua essência depravado, atribuindo ao pecado um lugar ontológico na natureza humana, tornando-o um dos elementos que definem o que é o humano. Essa visão está fundamentada em dois pontos: primeiro, na humanidade como se nos apresenta em nós e fora de nós, sua tendência “natural” para o mal, o egoísmo, a ganância, o orgulho etc., que se mostram tão arraigados no ser humano; segundo, de um desenvolvimento lógico da doutrina do pecado original onde Adão e Eva como representantes da raça humana fizeram a opção que acarretou conseqüências a todos os seus descendentes. No primeiro ponto temos a constatação que coloca diante de nós a questão do mal no homem, no segundo, a explicação que tende a responder a pergunta pela origem desse mal. Com isso, ao perguntar porque o ser humano é como é (egoísta, orgulhoso, destruidor etc.), a resposta é: por que por natureza ele é pecador.
Uma das doutrinas fundamentais da teologia cristã é a doutrina duas naturezas do Redentor, a humana e a divina. Para fundamentar sua humanidade é comum tomar alguns aspectos do homem tais como choro, ira, fome, cansaço etc.(que não são exclusivamente do homem) a fim de, a partir dos mesmos, comprovar a humanidade de Jesus, mas aqui é preciso que perguntemos até que ponto aspectos como, choro, fome cansaço e outros servem de critério para falar de essência humana. O que faz o homem humano é o choro, a fome, o cansaço? Será possível falar de verdadeira humanidade tendo como ponto de partida seres imperfeitos e debilitados?
Proponho aqui que para responder à questão sobre o que é o humano, que nossa primeira atitude deve ser de redirecionamento. Não devemos tomar a humanidade em seu modo de existir, para falar do humano, mas devemos olhar para Jesus, o homem, pois a humanidade em seu modo de existir não nos fala o que é o homem em sua essência, o máximo que pode fazer é apontar o que é a humanidade degenerada. Através do redirecionamento, seguimos o caminho inverso e no lugar de partir da humanidade como a vemos para falarmos de essência da humanidade, e até mesmo da humanidade de Jesus, partirmos da humanidade de Jesus para então apontar o que é a humanidade em sua essência e o que o humano deveria ser. A partir do ser humano como vemos, o máximo que podemos conhecer é o ser humano depois da queda, o que seria inaplicável a Jesus, mas é em Jesus que temos o projeto de Deus para o homem.

O projeto de Deus
Para entendermos o que Deus pretendia que o ser humano fosse, não podemos olhar para a humanidade como se encontra ao nosso redor, mas para Adão antes da queda, contudo, como conhecer esse Adão? Para Paulo, Jesus como imagem de Deus era a humanidade pretendida na criação, de forma que, na busca pela essência da humanidade nossos olhos devem se voltar para Cristo.
A encarnação de Jesus causou uma divisão no seio da própria humanidade, pois antes de sua encarnação havia apenas um modelo de ser humano, o ser humano pós-queda, marcado pelo pecado, descrito numa condição de “morte espiritual”. Mas na encarnação de Jesus uma nova humanidade é introduzida como uma outra opção, Jesus é a expressão da humanidade pretendida por Deus na criação.
Assim, quando Jesus assumiu a natureza humana sem pecado, ele revelou que o pecado não é uma realidade ontológica do ser humano, e que a humanidade sob o pecado é, na verdade, a humanidade corrompida, humanidade desumana.

Luciano L. Borges

Referência Bibliográfica:
MURPHY-O´CONNOR, J. A antropologia pastoral de Paulo: tornar-se humanos juntos. São Paulo: Paulus,1994.

Minh´alma é triste

Minh’alma é triste como a rola aflita
Que o bosque acorda desde o alvor da aurora,
E em doce arrulo que o soluço imita
O morto esposo gemedora chora.

E, como a rôla que perdeu o esposo,
Minh’alma chora as ilusões perdidas,
E no seu livro de fanado gozo
Relê as folhas que já foram lidas.
E como notas de chorosa endeixa
Seu pobre canto com a dor desmaia,
E seus gemidos são iguais à queixa
Que a vaga solta quando beija a praia.
Como a criança que banhada em prantos
Procura o brinco que levou-lhe o rio,
Minha’alma quer ressuscitar nos cantos
Um só dos lírios que murchou o estio.
Dizem que há, gozos nas mundanas galas,
Mas eu não sei em que o prazer consiste.—
Ou só no campo, ou no rumor das salas,
Não sei porque — mas a minh’alma é triste!

Minh’alma é triste como a voz do sino
Carpindo o morto sobre a laje fria;
E doce e grave qual no templo um hino,
Ou como a prece ao desmaiar do dia.

Se passa um bote com as velas soltas,
Minh’ahna o segue n’amplidão dos mares;
E longas horas acompanha as voltas
Das andorinhas recortando os ares.
Às vezes, louca, num cismar perdida,
Minh’alma triste vai vagando à toa,
Bem como a folha que do sul batida
Bóia nas águas de gentil lagoa!

E como a rola que em sentida queixa
O bosque acorda desde o albor da aurora,
Minha’ahna em notas de chorosa endeixa
Lamenta os sonhos que já tive outrora.
Dizem que há gozos no correr dos anos!…
Só eu não sei em que o prazer consiste.—
Pobre ludíbrio de cruéis enganos,
Perdi os risos — a minh’alma é triste!

Minh’alma é triste como a flor que morre
Pendida à beira do riacho ingrato;
Nem beijos dá-lhe a viração que corre,
Nem doce canto o sabiá do mato!

E como a flor que solitária pende
Sem ter carícias no voar da brisa,
Minh’alma murcha, mas ninguém entende
Que a pobrezinha só de amor precisa!

Amei outrora com amor bem santo
Os negros olhos de gentil donzela,
Mas dessa fronte de sublime encanto
Outro tirou a virginal capela.

Oh! quantas vezes a prendi nos braços!
Que o diga e fale o laranjal florido!
Se mão de ferro espedaçou dois laços
Ambos choramos mas num só gemido!
Dizem que há gozos no viver d’amores,
Só eu não sei em que o prazer consiste!—
Eu vejo o mundo na estação das floresTudo sorri —
mas a minh’alma é triste!

Minh’alma é triste como o grito agudo
Das arapongas no sertão deserto;
E como o nauta sobre o mar sanhudo,
Longe da praia que julgou tão perto!

A mocidade no sonhar florida
Em mim foi beijo de lasciva virgem:—
Pulava o sangue e me fervia a vida,
Ardendo a fronte em bacanal vertigem.

De tanto fogo tinha a mente cheia!…
No afã da glória me atirei com ânsia…
E, perto ou longe, quis beijar a s’reia
Que em doce canto me atraiu na infância.

Ai! loucos sonhos de mancebo ardente!
Esp’ranças altas… Ei-las já tão rasas!…—
Pombo selvagem, quis voar contente…
Feriu-me a bala no bater das asas!

Dizem que há gozos no correr da vida…
Só eu não sei em que o prazer consiste!—
No amor, na glória, na mundana lida,
Foram-se as flores — a minh’alma é triste!

Casimiro de Abreu

Deus ausente


"Deus nos faz saber que devemos viver como aqueles que se arranjam na vida sem Deus. O Deus que está conosco é o Deus que nos abandona (Mc 15.34). O Deus que nos deixa viver no mundo, sem a hipótese do trabalho de Deus, é o Deus diante do qual permanentemente temos de estar. Diante de Deus e com Deus vivemos sem Deus. Deus permite que seja expulso do mundo até a cruz. Deus é impotente e fraco no mundo e exatamente assim Ele está ao nosso lado e nos ajuda. Conforme Mt 8.17 fica bem claro que Cristo não ajuda graças à Sua onipotência, mas graças à sua fraqueza e ao seu sofrimento."

Dietrich Bonhoeffer

Porque somos tão "infelizes"?


Por não perseverarmos no certo;
Por não aprendermos com nossos erros;
Por tomarmos outros como parâmetro de felicidade;
Por nunca conseguirmos parar para ver um pôr-do-sol;
Por não nos contentarmos nem com pouco nem com muito;
Por não percebermos nas mínimas coisas as grandes dádivas;
Por nos iludirmos com a possibilidade de uma felicidade pura;
Por gastarmos nosso tempo construindo mais muros que pontes;
Por nos faltar tempo para visitar orfanatos, hospitais e até mesmo velórios;
Por não compreendermos nosso lugar nem o lugar de Deus em nossa vida;
Por não aprendermos a lidar com nossos dissabores com a firmeza de um adulto;
Por termos a habilidade de transformar nossos romances em dramas e nossas comédias em suspense;
Por estarmos demasiadamente preocupados conosco e não vermos que há pessoas que precisam de nós;
Por nos esquecermos do texto que diz: “Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu: há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou; tempo de matar e tempo de curar; tempo de derribar e tempo de edificar; tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de saltar de alegria; tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar; tempo de buscar e tempo de perder; tempo de guardar e tempo de deitar fora; tempo de rasgar e tempo de coser; tempo de estar calado e tempo de falar; tempo de amar e tempo de aborrecer; tempo de guerra e tempo de paz”.
Por não entendermos que até a infelicidade tem seu lugar em nossa existência.


Luciano L. Borges

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Empatia ou apatia?

“Certa manhã experimentei um momento terrível. Tentei lembrar quantas vezes entre 1941 e 1988 eu havia chorado por um alemão ou por um japonês, por um norte-coreano ou por um norte-vietnamita, por um sandinista ou por um cubano. Não lembrei uma vez sequer. Então chorei, não por eles, mas por mim mesmo”.

Brennan Manning

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Is This The World We Created?

Alguém disse: "Toda verdade vem de Deus, onde quer que a encontremos". Ouçamo-la da boca de Freddie Mercury:

Is This The World We Created?

Just look at all those hungry mouths we have to feed
Take a look at all the suffering we breed
So many lonely faces scattered all around
Searching for what they need

Is this the world we created?
What did we do it for?
Is this the world we invaded
Against the law?
So it seems in the end
Is this what we’re all living for today?
The world that we created

You know that every day a helpless child is born
Who needs some loving care inside a happy home
Somewhere a wealthy man is sitting on his throne
Waiting for life to go by

Is this the world we created?
We made it on our own
Is this the world we devastated
Right to the bone?
If there’s a God in the sky looking down
What can he think of what we’ve done
To the world that he created?

Tradução:
É este o mundo que nós criamos?

Pense só naquelas bocas famintas
Que temos que alimentar.
Dê só uma olhada em todo o sofrimento
Que originamos.
Tantas faces solitárias espalhadas por todo lado
Procurando o que precisam.

É este o mundo que criamos ?
Pra que o fizemos ?
É este o mundo que invadimos contra a lei ?
Assim, parece que no fim das contas,
Será que e por isso que estamos vivendo hoje ?
O mundo que criamos...

Você sabe que todo dia
Nasce uma criança indefesa,que precisa de um pouco de carinho
Dentro de um lar feliz...
Em algum lugar um homem poderoso
Está sentado em seu trono,esperando a vida passar...

É este o mundo que criamos?
Nós o fizemos sozinhos!
É este o mundo que devastamos
Até não poder mais ?
Se existir um Deus lá em cima no céu,
Olhando cá pra baixo, o que Ele deve estar pensando do que fizemos
Com o mundo que Ele criou
Queen

sábado, 8 de agosto de 2009

Canção para Mônica

Deixa eu poder te mostrar
Os castelos de sonhos do lado de lá,
As passagens secretas que vão nos levar
Aos jardins mais floridos que existem por lá.

Deixa eu poder te contar
As estórias de um reino, de um rei, de um lugar,
De um tesouro esquecido num canto de mar,
De um amante com medo do tempo passar.

Deixa eu poder distrair
Quem te guarda os segredos que eu vou descobrir,
Quem te esconde as vontades tentando impedir
Que eu te acorde os desejos que eu vou possuir.

Deixa eu poder adormecer
Sem ter medos calados nem nada a esconder,
Sem ter olhos parados olhando sem ver,
Mergulhados num mundo proibido a você.

Deixa eu poder reclamar
Desse tempo passado sem te desfrutar,
Sem sentir teu perfume, te ver, te tocar,
Sem sonhar os teus sonhos nem neles estar.

Deixa eu poder mendigar
As migalhas do vento que vem te alisar,
Se você num momento sem muito pensar
Tenha os olhos atentos num outro lugar.

Deixa eu poder blasfemar
Se qualquer dia desses eu necessitar,
Se buscando saídas eu me equivocar
E depois teu perdão eu tiver que implorar.

Deixa eu querer-te, mulher,
Dar-te tudo o que um dia você desejou,
Ter-te sempre a meu lado como você é
E te amar como eu sou.

Toquinho

Sobre a religião

Costuma-se culpar a ciência secular e a filosofia anti-religiosa pelo eclipse da religião na sociedade moderna. Seria mais honesto culpar a religião por suas próprias derrotas. Ela decaiu não porque foi contestada, mas porque se tornou irrelevante, enfadonha, opressiva e insípida. Quando a fé é completamente substituída pelo credo, o culto pela disciplina, o amor pelo hábito; quando a crise de hoje é ignorada pelo esplendor do passado; quando a fé se torna um mero objeto herdado em vez de uma fonte de vida; quando a religião fala somente em nome da autoridade em vez da compaixão, sua mensagem se torna sem sentido.

Abraham Joshua Heschel

Brennan Manning

Pensem nisso.

Um convite

Porque escrever um blog?


Para falar a verdade não tenho uma resposta bem definida para essa questão (Porque escrever um blog?) aliás, esse negócio de ter que explicar ou justificar as coisas as vezes torra a paciência, mas para simplificar posso dizer que gosto de pensar, e vejo aqui um espaço para compartilhar um pouco dos meus pensamentos.
Compreendo o ato de pensar como um exercício do intelecto ao mesmo tempo produtivo e ingrato, produtivo porque o pensar abre horizontes e amplia a visão, nos faz perceber que a complexidade da vida e a simplicidade do viver se combinam de maneira tão bela que nos escapa às percepções lógicas. Ingrato, pelo fato que o que move o pensar são inquietações, e essas inquietações perturbam gerando outras inquietação, e assim vai. Pensar é mergulhar no oceano a procura de um peixe e descobrir milhares e milhares deles desfilando em cardumes, é olhar para o céu em busca de uma estrela e extasiado se perder na imensidão das constelações. Pensar é descobrir cada dia mais a grandeza de nossa ignorância.
Assim, nesse espaço me proponho a escrever um pouco do que tenho pensado, não um pensamento pronto e acabado, mas um pensamento sempre em processo de maturação, aberto para aprender e sempre em busca de completude. Quero dizer com isso que aqui me sentirei à vontade para, sempre que necessário, repensar o já pensado, questionar o antes defendido e até tornar-me estranho do que outrora fora tão íntimo.
Enfim, quero pensar sobre tudo e, na medida do possível, tudo sobre tudo. Quero dar asas à imaginação e permitir que alce voo e no simples ato de voar encontre prazer.
Luciano Borges