sexta-feira, 14 de agosto de 2009

A IPB e o Carrossel


Estamos às vésperas de mais um encontro “Conversa com Quem Gosta de Pensar”, e propomos que nesse encontro nosso objeto de reflexão seja um balanço da história da Igreja Presbiteriana do Brasil (cartaz ao lado). Penso que temos vários motivos que justifiquem essa escolha, mas particularmente, um aspecto me chama atenção, a sensação de que enquanto a história ao nosso redor se desenvolve de maneira linear, na IPB ela se dá de forma cíclica. O pressentimento é de que estamos num carrossel que a cada volta traz os mesmo cavalinhos. Celebramos 150 anos, mas nada há de novo, nossa agenda há mais de cem anos é ocupada pelas mesmas discussões, estamos num grande carrossel e não sabemos como sair.
Ainda está na pauta das nossas discussões o problema da maçonaria. Para uns, uma mera confraria sem nenhum caráter religioso, uma espécie de irmandade que, apesar de seu caráter secreto que desperta em nós uma curiosidade danada, nada tem de mais, enquanto que para outros se trata de uma sociedade satânica no seio da igreja de Cristo, uma organização do mal que, apesar das insígnias: liberdade, igualdade e fraternidade, procura enganar, se possível os próprios eleitos. Essa discussão tem mais de cem anos e de tempos em tempos é retomada; livros são escritos, debates retomados, consultas baixadas, decisões são tomadas, assim caminha “entre tapas e beijos” IPB e maçonaria.
Não temos mais (pelo menos penso eu) o problema da intervenção dos missionários americanos em nossa administração traçando nossas prioridades e fazendo nossa agenda eclesiástica, mas os irmãos do norte continuam exercendo uma imensa influência em nossa teologia (que nem é nossa, é deles). Nos tornamos meros papagaios, os melhores teólogos são de lá (os que aqui teologam não teologam como lá), os melhores livros vem de lá, e porque não falar também do nosso novo modelo “contemporâneo” de igreja. Ora o que tudo isso quer dizer? Ainda continua atual a questão da nossa autonomia eclesiástica, não mais a autonomia administrativa, mas teológica e eclesiológica.
O fantasma do liberalismo voltou a nos assombrar. Perigo, estão à solta os outrora denominados modernistas, hoje neo-ortodoxos, mas que no fundo, aqui para nós, é tudo a mesma coisa (esses movimentos não floresceram em nossa terra, apenas se tornaram rótulos para classificar os que divergem em algum aspecto do pensamento hegemônico). É preciso combatê-los! Assim, o recado (ou ameaça?) é dirigido sempre aos mesmos “hereges”, ao mesmo seminário e à mesma teologia, que por não se fechar nos muros de uma certeza paranóica é classificada como maléfica. O que fazer com esses heterodoxos? Continua sendo um problema para nós.
Maçonaria, influência americana e o tal do liberalismo são os três dos cavalinhos do carrossel da IPB. Eles mostram que nossos problemas e nossas discussões não são novos, são velhos, e embora o mundo ao nosso redor caminhe linearmente nós estamos presos nessa roda-viva. Penso que refletir sobre a história da IPB pode nos ajudar a buscar de forma criativa outros caminhos que nos livre desse carrossel e nos leve a pensar não só na história da IPB, mas sobretudo, sobre o lugar da nossa amada IPB na história.

Luciano L. Borges

Obs. Esse artigo foi postado originalmente em 16/03/2009 num outro blog.

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