segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O Senhor da minha fé

Não creio no deus dos magistrados
nem no deus dos generais
ou das orações patrióticas.
Não creio no deus dos hinos fúnebres
nem no deus das salas de audiência
ou dos prólogos das constituições
e dos epílogos dos discursos eloquentes.
Não creio no deus da sorte dos ricos
nem no deus do medo dos opulentos
ou da alegria dos que roubam ao povo.
Não creio no deus da paz mentirosa
nem no deus da justiça impopular
ou das veneradas tradições nacionais.
Não creio no deus dos sermões vazios
nem no deus das saudações protocolares
ou dos matrimônios sem amor.
Não creio no deus construído
à imagem e semelhança dos poderosos,
nem no deus inventado para sedativo
das misérias e sofrimentos dos pobres.
Não creio no deus que dorme nas paredes
ou se esconde nos cofres das igrejas.
Não creio no deus dos natais comerciais
nem no deus das propagandas coloridas.
Não creio nesse deus feito de mentiras
tão frágeis como o barro,
nem no deus da ordem estabelecida
sobre a desordem consentida.

O Deus da minha fé nasceu numa gruta.
Era judeu,
foi perseguido por um rei estrangeiro
e caminhava errante pela Palestina.
Fazia-se acompanhar por gente do povo;
dava pão aos que tinham fome;
luz aos que viviam nas trevas;
liberdade, aos que jaziam acorrentados;
paz, aos que suplicavam por justiça.
O Deus da minha fé punha o homem acima da lei
e o amor no lugar das velhas tradições.
Ele não tinha uma pedra onde recostar a cabeça
e confundia-se entre os pobres.
Só conheceu os doutores quando estes duvidaram
de sua palavra.
Esteve com os juízes, que procuravam condená-lo.
Foi visto entre a polícia,
preso.
Pisou o palácio do governador
para ser chicoteado.
O Deus da minha fé trazia uma coroa
de espinhos.
Vestia uma túnica toda tecida
de sangue.
Dispôs de batedores que lhe abriram o caminho
do Calvário,
onde morreu, entre ladrões
na cruz.

O Deus da minha fé
não é outro senão
o filho de Maria,
Jesus de Nazaré.

Todos os dias ele morre
cruscificado pelo nosso egoísmo.
Todos os dias ele ressuscita
pela força do nosso amor.

Frei Betto

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