segunda-feira, 22 de março de 2010

Dogmatismo e tolerância


Ler o livro Dogmatismo e Tolerância de Rubem Alves, foi num primeiro momento, mais uma obrigação de consciência que um simples desejo por essa leitura. Se dependesse de minha escolha, teria lido outro livro, quem sabe Tillich, Ricoeur, Moltmann ou outros. Entretanto, pelo fato de tê-lo recomendado a um amigo me senti na obrigação de também conhecê-lo. Mas aquilo que começou como obrigação se tornou prazeroso e enriquecedor; na medida em que avançava pelas paginas dessa obra me deparei com uma fonte inesgotável, em outras palavras, esse livro foi tão marcante, que inclusive, me valeu estas mal traçadas linhas.
Apesar de ser considerado persona non grata por alguns, na Igreja Presbiteriana do Brasil, a história de Rubem Alves se entrelaça com a história dessa denominação, (para tristeza de alguns e alegria de outros) dele dizia o saudoso Rev. Joás Dias de Araújo: “O Rubem é um vulcão teológico”. Após seus estudos de teologia no Seminário Presbiteriano do Sul (SPS), adquiriu grau de mestre na mesma área pelo Union Theological Seminary (New York) e doutor em filosofia pelo Princeton Theological Seminary (Princeton), transitando também pela psicanálise, etc. Rubem Alves tornou-se, sem dúvida, uma referência o pensamento brasileiro.
Mas quero falar do livro. Dogmatismo e Tolerância é um ensaio que tem como objetivo uma análise histórica dos caminhos trilhados pela igreja Protestante e pela igreja Católica, no Brasil. Como análise, essa obra não se limita a manipular e organizar os acontecimentos históricos, mas faz uma escavação, revelando uma dinâmica invisível que direcionou os eventos que marcaram tanto o protestantismo como o catolicismo. Assim, ao escavar por baixo, Rubem Alves torna visível elementos que a história contada não capta. Pontuo algumas questões abordadas no livro:

1. Como a igreja Protestante, que nasceu sob um ideal de liberdade e livre exame das Escrituras (Sacerdócio universal de todos os crentes) veio mais tarde a se fechar de forma tão radical?
2. O que é uma heresia e como é instituída?
3. A partir do ideal da Reforma do século XVI, o que significa ser protestante?
4. O que é o fundamentalismo e como se deu sua implantação na América Latina?

Essas e outras questões são abordadas nesse livro que, não obstante seu aspecto acanhado, (apenas 173 p.) é denso em seu conteúdo. Já li outros textos do Rubão (como é carinhosamente conhecido entre os seminaristas do SPS) que são sempre marcados tanto pela riqueza de informação como pela beleza da forma, valorizando um diálogo com teólogos, filósofos, sociólogos etc., e esse é mais um que realmente vale a pena.
Há pessoas que enaltecem Rubem Alves, não por sua produção intelectual, mas por sua saída da IPB, devido a sua orientação “liberal”. De minha parte, lamento sua saída, pois gente como ele nos faz pensar, nos revela que nossa fé não pode permanecer infantilizada e que maturidade antes de significar um conhecimento fossilizado, significa uma abertura para o aprendizado.

Luciano L. Borges

2 comentários:

Leandro disse...

Reverendo, eu só lamento que, depois de um começo tão marcante na caminhada teológica, revelada por livros como Da eperança, Protestantismo e repressão, O enigma da religião e, claro, Dogmatismo e tolerância, o velho Rubem tenha se tornado tão previsível, repetitivo e acomodado. Se ele tivesse mantido a mesma verve, fico imaginando o que não estaríamos lendo dele hoje...

Luciano disse...

Não tenho lido muita coisa do que o RA tem escrito nos últimos anos, mas também já notei, em fragmentos de textos ou falas que ele já não tem interesse em produção teológica concistente, se limitando apenas a repetir algumas frases de impacto. De fato isso é uma pena. Proponho então que vivamos do passado, do velho Rubão. Um forte abraço